Qual é a primeira imagem que vem à sua mente quando se fala de ferro velho? Sucatas, peças quebradas, carros usados e antigos. Essa descrição até faz sentido em várias partes do mundo, mas não na cidade dos Emirados Árabes Unidos.
Lá a ideia de ferro velho possui um outro molde, no local você pode encontrar vários automóveis de luxo como Lamborghini, Audis, Ferraris, Porsches e outros veículos de marcas exclusivas. Veículos que se fossem comercializados no Brasil normalmente valeriam mais de R$ 2 milhões.
Esses veículos ficam em depósitos acumulando poeira depois de serem recolhidos em acostamentos de estradas, no estacionamento do aeroporto ou simplesmente largados na rua. E o interessante é que em algumas ocasiões as chaves estão dentro dos veículos.
O Que Aconteceu Com Esses Veículos?
Quando esses carros são apreendidos pelas autoridades ou por empresas de resgate de veículos, os proprietários já estão bem longe do país, literalmente fugindo de um destino nada agradável.
Tudo isso pode até parecer uma situação rara, uma vez que se observarmos um ferro-velho brasileiro encontraremos uma grande variedade de modelos de carros estilo Gol, Uno e Corsas, e não uma edição limitada de uma Ferrari.
Em Dubai, no ano de 2019, foi divulgado que são abandonados entre 2 e 3 mil carros na cidade a cada ano. A situação se tornou tão insustentável que a cidade até lançou campanhas de conscientização para alertar sobre os problemas de abandonar veículos ou equipamentos em locais públicos.
As pessoas abandonam os carros em Dubai porque, de acordo com a lei islâmica, quem está inadimplente pode ir parar na cadeia. No Brasil é o contrário, normalmente as pessoas ficam apenas com o nome sujo e a propriedade é apreendida.
A Influência da Religião
Isso ocorre devido a lei islâmica “sharia” ou Caminho Claro para Água. Esse sistema jurídico foi desenvolvido por estudiosos muçulmanos a partir dos ensinamentos do Alcorão e dos comportamentos e falas do Profeta Maomé.
Entre a prática do jejum, das orações diárias, do direito da família e das doações, existem punições rígidas para quem não cumpre a lei. Por exemplo, uma pessoa que rouba pode ter a mão amputada, alguém que comete adultério pode ser condenado à morte por apedrejamento e o indivíduo que não cumpre com as próprias dívidas pode ser sentenciado à prisão perpétua.
Deve-se destacar que a Lei Sharia não necessariamente é aplicada em todos os países islâmicos. Mesmo assim, os donos dos automóveis de luxo preferem deixar tudo para trás e abandonam o país para não sofrer nenhum tipo de punição.
Quando Começou O Abandono de Carros de Luxo
Esse costume de abandonar carros de luxo começou por volta de 2012 e se intensificou até 2018, sendo esse o mesmo período em que os Emirados Árabes Unidos passavam por uma crise financeira.
Nos Emirados Árabes, quase noventa porcento da população é composta por imigrantes e aliado ainda o fato de que não é muito difícil adquirir crédito, o resultado foi que muitas pessoas estrangeiras, sobretudo empresários, passaram a ter dificuldades para quitar os empréstimos.
Isso ocorre devido ao sistema de crédito do país não incutir juros, o que se espera é que as pessoas façam o empréstimo e paguem o dinheiro, uma vez que a dívida é realizada em nome de Alá. O pagamento não é só obrigação, mas uma responsabilidade com Deus, então caso a pessoa não pague a dívida o responsável pelo empréstimo pode fazer uma denúncia e a pessoa ser presa.
Dubai, A Cidade do Luxo
Por mais que Dubai seja vista como uma cidade cheia de riquezas, com seus prédios monumentais e os automóveis de luxo, a cidade é considerada economicamente desigual. Esse mercado luxuoso é praticamente sustentado por uma pequena elite que ganha fortunas a partir de poços de petróleo.
Como não é regra que esses empresários estrangeiros tenham a mesma riqueza que a elite árabe, eles viajam até a cidade e dividem o pagamento dos automóveis em parcelas de dois a três anos. Essa dívida junto ao consumo compulsivo e a falta de reserva de dinheiro em casos de falência, tem-se como resultado os carros abandonados.
Há outro fato que agrava ainda mais esse cenário é que alguns habitantes super ricos de Dubai também abandonam os carros de luxo, uma vez que possuem uma fortuna tão grande e estão tão desapegados aos bens materiais que simplesmente deixam seus carros na rua e compram outro.
O Recolhimento dos Veículos de Luxo
Assim que os veículos são encontrados pela polícia, as autoridades enviam uma
notificação para os proprietários ou um alerta de que os carros serão confiscados e de que os donos têm até 15 dias para reivindicar o automóvel.
Como ninguém aparece, os carros são encaminhados para pátios de armazenamento para posteriormente serem leiloados a preços consideravelmente baixos, à exemplo de uma Ferrari que chegou a ser vendida por 150 mil reais.
Uma Oportunidade no Mercado de Veículos
Empresas internacionais viram uma oportunidade de negócio em meio a esse cenário e passado a buscar os automóveis abandonados antes que fossem confiscados pelas autoridades. Surgiram, então, os caçadores de supercarros.
Esses caçadores são pessoas especialistas em veículos de luxo e trabalham para encontrar os carros e os proprietários o mais rápido possível. Porém, isso não é uma tarefa fácil visto que os donos fogem do país.
Quando os caçadores conseguem entrar em contato com os donos, eles negociam o valor dos carros e os adquirem para depois revendê-los.
O salário dos caçadores compensa essa correria, por exemplo, quando uma empresa britânica estava contratando pessoas para essa função, essa empresa se comprometeria com as despesas de viagem, estadia e ainda pagava uma comissão por cada carro recolhido, fora o salário de 30 mil libras o equivalente a R$ 141.800,00 em 2019.
Então, o que acha dessa oportunidade de emprego?
Fonte: autoesporte.globo
Imagem: mundofixa